"Mas sei que não podemos ficar aqui pra sempre.Então vou escrever minhas palavras na face do hoje,e eles irão pintá-las..."
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
A magia de querer mudar o mundo
Invençãozinha
Sei que alguém já disse isso, mas eu quero dizer também
A gente inventa o amor só para se sentir bem.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Um salve
Eu sou guerreira Iansã
Filha de Oiá, protegida por xangó
Regida por vênus
Mas nascida das águas por um milagre de yamanjá
Tua mandinga pra mim é revertida
Na mais pura alegria pra reger a minha vida
Salve, salve aos que vem aqui trazer amor.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Com Joelle - Madaleine Fragmentos
Fazia sol naquela manhã, mas havia algumas nuvens no céu. A boa brisa que atravessava e balançava aquelas cortinas brancas de fino tecido refrescava seu rosto alvo enquanto espreguiçava na cama tomando forças para acordar. Madaleine tinha a pele fina, destas que marcam com qualquer toque. Nasceu em 1970, em Paris, data significativa para os que sempre precisaram de uma boa desculpa para ficar nu. Cresceu em um trailer itinerante vendo seus pais sem roupa. À beira de seus 32 anos, não conseguiu se acostumar aos panos, ainda que leves, e quase nunca utilizava de vestimentas dentro de casa. Morava só em um pequeno apartamento de um vão situado bem próximo a Place de La Concorde, uma transversal da Champs-Élysées.
Era sábado, ela levantara contente por não precisar sair às pressas para ir ao café. Todo dia precisara servir e servir com mil sorrisos que nem sempre gostaria de distribuir. Enquanto passava um expresso e apreciava aquele odor do pó diluindo em água quente, devorava com os dedos um pote de chocolate com avelã, primeiro um, depois o outro, e lambia um a um.
Ele se chamava Joelle. Era alto, com uma barba mal feita, magro e com os dentes um pouco mal tratados. Estavam juntos há três anos. Todo o dia à noite, ao sair do trabalho, passara no apartamento de Madaleine. Era assim desde o início. Às 19h ele entrava com sua própria chave. Apressava-se sempre para possuí-la, sem muita atenção aos desejos dela.
A princípio, ela fingia gostar. Mas há pouco, havera decidido não mais esconder. Ele continuara a ignorar. Em seguida, bebia uma garrafa de cerveja em um só gole e ia embora, deixando os rastros do seu sapato na sala enquanto ela, sozinha, terminara o serviço mal acabado
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Lágrimas e Uísque
Eu queria hoje inundar o mundo inteiro
E de tanto pranto, afundar o chão
Eu queria hoje deixar toda maré
descer do meu olho
E de tanta água, afogar até o rio
Eu queria hoje escrever um poema
Um poema que falasse de dor
Mas to tão inerte que nem consigo
Eu queria era chorar, mas chorar
E chorar muito
Chorar até cair a bola do olho
Queria dizer que to cansada
Que estou sem saco, farta
E que tem um sufoco, um sufoco enorme
Bem no meio do meu pescoço
Eu queria ficar prostada, acabada, derrotada
Queria me deixar vencer, nocauteada, morrida
Eu queria ser fraca, me entupir de psicotrópicos
Usar drogas e virar alcoólatra
Tudo pra justificar minha dor
Queria entrar pra igreja, me agarrar em deus, apostar na fé
Queria ir no terreiro fazer um trabalho pra desfazer o trabalho
Ou, talvez, no centro pra uma irmã me tirar o encosto
Queria ter certeza que vai dar tudo certo
Ou até mesmo que vai dar tudo errado
Mas não sou otimista, nem pessimista
Vivo essa merda de vida real somente respirando
Acordando todo dia pra fazer tudo de novo
E fudendo a alma por um prato de comida por dia
E cinco doses de uísque no final de semana
terça-feira, 11 de outubro de 2011
O diabo do ser humano
Ah, mas que insuportável e deliciosa essa confusa condição humana. Perdida na tortuosa paradoxal tentativa de racionalizar a busca da perfeição, mas também permitir-se ser errônea nem que fosse somente dez centavos, a mística do que danado fazer diante daquela maldita situação transtorna o cérebro - sacolejando os malditos pensamentos que teimosamente não param quietos num canto- , e, por outro lado, dão um bando de tabefes na cara do coração (coração?seria mesmo?), que é teimoso e arredio, parece uma mula, e só aceita mesmo fazer as coisas do jeito dele.
E então, variando – de variação mesmo – você entra no jogo, se envolve no joguete, berra, grita, solta fogos, vê estrelas. Varia, de avariação. Aprecia a lua, ou até mesmo acha uma boa merda. E trepa, enlouquece. Ama. Depois racionaliza, esquece. E na máxima de ser humano, o tal do ser humano, ah, esse tá fadado mesmo é a ser de carne e osso (e sangue). Sente embrulho no estômago, nó nas tripas, engasgo no pescoço. E vai traçando caminho, andando no mundo conhecendo as coisas, por vezes de olhos abertos e outras não. Sobrevivendo na guerra, aparando essa arenga sem fim entre o subjetivo, a verdade e o esforço.
E olhe, meu senhor, eu vou lhe dizer um negócio. Não tem nesse mundo nietzsche, e cá entre nós, nem mesmo Regina Navarro, e quem dirá o cabra mais macho – ou a cabrita mais braba – que dê conta de ignorar aquela coisinha boa de benza mãe que dá no diabo do ser humano, todo errado que é, quando o que se quer mesmo é simplesmente ficar do lado de alguém.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Madaleine - Parte I
À direita, ela não escondia mais vontades. Enquanto ele matava a sede, debruçou-se com a mão esquerda nas próprias partes. Devagar, dedicou-se a si mesma com entusiasmo de quem não estava sendo totalmente ignorada. O olho dela invertia. A coluna transpirava de desejo. Era assim sempre, a cada intervalo enquanto não estava dedicando-se a encarnar a Pagu, ou até mesmo atualizando novas leituras à Madame Bovary. Naquela hora, especialmente naquela hora, a boca insistira em salivar, e exalava um cheiro doce.
Ele levantou, beijou-a na cabeça com um carinho fraterno que ela dispensava. Virou as costas, sujou o carpete com o sapato e bateu a porta. Na cama, nem os olhos abriu. Determinada em suas próprias vontades, mostrava os seios à todos que ali não estavam, e devorava com as mãos um público inteiro que jamais presenciou o espetáculo, mas que ela escutava os aplausos sempre antes de levantar.
A intimidade com a cama a fez adormecer os olhos, enquanto o corpo incansavelmente funcionava. Despertou em poças. A pele clara tinha placas vermelhas. Sentiu falta dele à cama, mas somente por um instante. Na sala, as marcas do sapato no carpete. Era rotina. Ela limpara, e elas voltariam. Ainda úmida, despida, satisfeita, abriu as cortinas. Amanhecia e a cidade luz já mostrava daquela janela um pedacinho do Obelisco de Luxor quando a campanhia tocou.
Madelaine não esboçou reação, não havia surpresa. Ansiosa, esperava. Caminhou à porta. Completamente nua, girou a maçaneta e a encontrou. Valentine entrou em um silêncio, mas na face, um sorriso gritava bem no canto da boca de lábios pálidos e magros. Elas tinham os mesmos olhos. O mesmo cheiro, o mesmo gosto de carne crua. E Empoçaram-se naquela fome, numa batalha de peles alvas e línguas ácidas que não terminara antes de um novo amanhecer em Paris.
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