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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Maldita bruxa

Não, não
Eu não aconselho

Não olhe os olhos dela
Ou o faça com cautela

Eles rementem espelhos
Mas são só solidão

Tem um brilho tão forte
Que cegam multidão

Ouça, me escute
Não fique à revelia

Aquela boca toda
Esconde bruxaria

Pode lembrar silêncio
Ou imaginação

Mas sua cor intensa
Te leva a escravidão

Loba, Loba

É capaz de te sentir
Só em te ver andar
Já sabe como agir

Bruxa, maldita

Só vai querer usar
Esperando um deslize

Vai fingir te amar


terça-feira, 21 de maio de 2013

Flores para alguém


Da estrada, olhei pra o lado
Tinham flores na vitrine
Azul, cor-de-rosa, Púrpura e amarela
Não eram minhas, nenhuma delas.

Quem te viu


Você já teve mais vísceras, mulher.

Já te vi sonhando, carregando mastros
De bandeiras rubras tremulando ao céu
Já te vi aos berros defendendo o mundo
Num surto profundo de quem rasga o véu

Já te vi cantando hinos e orações
Com os ombros altivos e a cabeça em pé
Percebi que todo dia levantavas
Costurava a boca e carregava a fé

Já te vi dançando e erguendo mil mundos
Sambando ligeiro sem pensar no fim
Já te vi chorando o amor moribundo
Que andou o mundo e não chegou a mim

Já te vi, mulher, vomitando as dores
como quem dispensa  tudo o que morreu
Já te vi sentir mais o cheiro das flores
Sem se lamentar o dia em que nasceu.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pensamento indormível


Eu vou fechando os meus olhos
Contando dois mil carneirinhos
Esperando que a dor vá embora
Esperando que amor vire ninho
Apresso meu passo e corro
Desvio de um monte de pedra
E quando vou pedir socorro
O sono ainda nem virou reza
E sonho que um dia sonhar
Com um campo de flor colorido
Vai me fazer cochilar
Daquilo que é tão dolorido
Prometo que vou descansar
Fazer minha cabeça parar
Mas dentro de um mesmo juízo
Tem muita história pra contar
E vou nessa luta norturna
precisando de aconchego
Mando o pensamento calar
Mas ele não me dá sossego

Respira e ama


Respira,  pausa
Pensa e versa

Sossega a alma
Não dispersa

Permita o sangue
Circular

E deixa o coração
amar

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Menina-pereba

Eu tenho as unhas roídas
Nunca fui uma mocinha
Meu joelho conta histórias
que não são de princesinha

Tropecei, caí no chão
Me trepei num pé de coco
Troquei tapa com moleques
Já levei até um soco

Nunca tive paciência
Para pentear boneca
Meu negócio sempre foi
Pular e jogar peteca

Cada carreira que eu dava
Me rendia uma pereba
O zamboque do meu dedo
Poucas vezes dava trégua


Só bem depois que eu cresci
Aprendi a passar batom
Mesmo hoje, ainda assim
Nunca acertei o tom

Me joguei nas aventuras
Me ralei no corpo inteiro
se não gosta de feridas
nem olhe o meu cotovelo

Dei umas risadas altas
Consertei encanamento
E, pra mim, matar barata
Nunca foi nenhum tormento

Quem me olha acha estranho
Mas eu sou feliz assim
sem talento pra frescura
Ontem, hoje e até o fim 

E se você aí se importa
em ver minhas cicatrizes
essas são as mais rasas
de todas as marcas que tive

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Solfejo


Eu não quero só a sua boca
Não quero seu corpo
Nem tua presença vaga

Não quero ocupar seu tempo
E nem a sua rotina
Não quero uma ligação

Não nasci pra mendigar 
Eu não preciso pedir
a seu ninguém pra me amar

Não quero alguém pra jantar
Recuso um papo e um café
Se precisar

Eu quero que você me pegue
Quero que me abrace
E me esfregue

Quero que tu me musiques
Que tu me notes, me toques
E que me acordes

Quero que tu me estudes
Que me solfejes
E que me desejes

Eu quero é que você me queira
Que abra, pra mim, seus olhos
E sua alma inteira