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terça-feira, 28 de outubro de 2008

De Recife para Jeri. De Jeri para o Mundo.


De Recife para Jeri. De Jeri para o Mundo.



Nesta quinta-feira embarco pra Fortaleza, CE. De lá sigo até Jericoacoara. Meu primeiro destino ao longo dos próximos oito dias. Já tem um tempo que fui avisada que cobriria o Ecomotion - Campeonato Mundial de Corrida de Aventura. Esta competição é uma loucura. Um monte de malucos percorrem quase 600 km de Jeri - super íntima - até os Lencóis Maranhenses no meio do mato. Vão uma parte a pé, outra nadando, de bicicleta, de barco. E eu, mais louca ainda, vou seguindo tudo que acontece no meio do caminho.


Pois é, mesmo avisada, deixei tudo pra última hora. A semana da viagem foi um verdadeiro inferno. Vovó piorou, a babá faltou, a casa estava imunda, tive que arrumar uma mochila, fazer mala, comprar coisas pra viajar, lavar calcinhas, resolver coisas de dinheiro, pagar contas, transferir Pedro pra casa da minha mãe, administrar a crises familiares e, o pior, manter a bedita dieta que me atormenta já tem um mês, mas que já me fez perder três quilos - o que vai me ajudar bastante na hora da competição.



De qualquer forma, a animação é grande. Adoro viajar. Sempre quis conhecer Jeri e os Lençóis. Não sabia que seria nesta situação, trabalhando, ocupada e em uma corrida de aventura. Mas tá valendo GERAL.



A parte ruim é viajar lisa, sem nem um realzinho para comprar aquele brinco lindinho em Jeri, e a saudade. Não adianta disfarçar nem dar uma de super independente. Passo mal de saudade do meu filhote e do meu marido. Tanto que na última viagem (de apenas três dias, diga-se de passagem) fui para o Piauí cobrir o Brasileiro de Kite e quase morri. Mas aí é que está o teste de resistência. Desta vez são oito dias com saudades, mosquitos, e dieta. Vamos que vamos. Vejo vocês em Jeri!



URGENTE: Acompanhem a trajetória da competição na Folha de Pernambuco. Até o dia 08/11 terão matérias sobre a competição e um diário de bordo contando as aventuras desta repórter pelo interior do nordestino.


Qualquer coisa, www.folhape.com.br

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

FOLHA DE PERNAMBUCO - 22/ 09/ 2008

O pôr do sol na hora da despedida
Terminou ontem, na praia do Coqueiro, no Piauí, o Brasileiro de Kitesurfe

Manuella Bezerra de Melo
Enviada especial

LUÍS CORREIA - Depois de quatro dias de disputas, terminou, na tarde de ontem, o Brasil Kite Tour. A competição foi válida pela primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Kitesurfe e, com o pôr do sol vermelho da paradisíaca praia do Coqueiro como plano de fundo, os melhores da modalidade foram premiados, consagrados campeões e classificados para disputar a etapa do Mundial, que inicia na próxima semana, também no Piauí.

Durante toda a competição, os atletas participaram de páreos que ficaram para a história. Mas nenhum deles comparado com o da categoria free style. O carioca Reno Romeu foi impecável e conquistou a primeira colocação da classe. “Essa etapa foi super puxada e, por conta disso, conseguir este título foi importante para eu entrar no Mundial na chave principal e com mais confiança no meu desempenho. Sem contar na liderança do ranking nacional”, falou Romeu.

A vitória dele não foi, assim, tão fácil. Ainda na sexta-feira foram decididos os quatro primeiros colocados e Romeu conquistou a liderança. Sendo que, no sábado, Hélio Cabrinha, atleta do Piauí, derrubou sete velejadores na repescagem e foi para a etapa de desafios contra o líder Reno Romeu, ficando com a segunda colocação. Além de Romeu e Cabrinha, também conquistaram vagas no Mundial o potiguar Sílvio Vilarim, com a terceira colocação, e o cearense Kleber Pinheiro, o Pepe, quarto colocado. No free style feminino, a paulista Bruna Kajiya conquistou, com facilidade e pela segunda vez, o lugar mais alto no pódio e, a partir da próxima semana, entra pesado em busca pelo título mundial.

Na categoria regata, nada de previsões concretizadas. O baiano Carlos Bodete ganhou as duas primeiras provas com facilidade e precisava apenas vencer a seguinte para assegurar o primeiro lugar. Mas na terceira e quarta regatas, quem levou a melhor foi o velejador Pedro Carvalho, que, no desempate, venceu e conquistou o título da disputa.

Apenas o wave já estava definido desde a última sexta-feira. No masculino, o pernambucano João Henrique ficou com a terceira colocação, superado, apenas, pelos baianos Roberto Vieira, segundo lugar, e Caique Aquino, vencedor da classe. No feminino, vitória da carioca Carol Freitas, seguida das paraibanas Carol Homsi e Nayara Licarião, respectivamente.

Belezas do local foram um atrativo a mais

O Delta do Parnaíba encanta a quem o conhece


LUÍS CORREIA - O cheiro bom de maresia, aquele monte de pipinhas coloridas enfeitando a paisagem e, como a moçada do kitesurfe costuma falar, o visual alucinante, foram alguns dos fatores que fizeram tantos dias de Campeonato Brasileiro de Kitesurfe passarem até bem rápido. Mas não foi só isso. O lugar foi escolhido a dedo. E não apenas pelos excelentes ventos, fundamentais para o sucesso da competição, mas também pelo que o Delta do Parnaíba pode proporcionar para quem visita a região e, principalmente, para quem busca esportes de aventura.


De Teresina, capital do Piauí, são seis horas de viagem. Para chegar lá, ou se pega um ônibus na rodoviária, cuja passagem custa, em média, R$ 50, ou vai de carro. De qualquer forma, o roteiro é longo e cansativo. Mas nada que você não esqueça completamente quando se deparar pela primeira vez com o pôr do sol vermelho fogo da praia do Coqueiro, onde foi realizada a competição e os ventos podem chegar a até 40 nós.

O Delta é muito grande. É impossível conhecer muitas coisas em apenas um fim de semana. Mas alguns trechos são rotas indispensáveis para quem procura adrenalina. A Ilha dos Poldos é um deles. Chegar lá é bem difícil. Só aventureiros de carteirinha topam. A melhor dica é pegar uma lancha na Ilha Grande de Santa Isabel e dividir com algumas pessoas. São 30 quilômetros de extensão pelo rio Parnaíba. Quase duas horas de viagem.


A graça é que, chegando lá, é possível desfrutar de quilômetros de dunas completamente desertas e, atravessando alguns minutos de areia, um marzão azul enorme sem uma viva alma na praia, com ventos ideais para a prática de qualquer modalidade de velejo. “Os atletas que vêm aqui ficam loucos. Dá para velejar no rio, atravessar as dunas de wakeboard e, em seguida, velejar novamente no mar com direito a ventos perfeitos”, falou o diretor de uma empresa de ecoturismo da região, Joaquim Vidal, o Joca.


Somente sete quilômetros dalí fica a Pedra do Sal. São cerca de dez quilômetros de extensão e duas praias juntinhas, mas bem diferentes. A primeira, Cuecão, tem um ar mais bucólico e um clima de descanso e romantismo. O lugar tem várias pedras nas laterais, onde o visual fica ainda mais incrível. Quando a maré está seca formam croas onde é possível caminhar. Já a Brava é procurada por surfistas do Brasil inteiro. As ondas podem chegar a cinco metros no período de Swel, perfeito para a prática da modalidade. É cair no mundo e conferir.


Ventos também favoráveis para o amor

LUÍS CORREIA - Uma coisa é constatada. Praticar esportes radicais e namorar são duas situações diretamente proporcionais. O ambiente, normalmente bem dotado de beleza natural, costuma inspirar paixões. E a natureza unida a um monte de gente bonita, saudável e, portanto, sarada, só favorece ainda mais o clima de romantismo, que se mostrou publicamente neste Brasil Kite Tour, competição nacional de kitesurfe, que foi realizada no Delta do Parnaíba, no Piauí.


A prova disto esteve por todos os lados. Nesta edição do evento, os dois campeões brasileiros da categoria free style, Reno Romeu, no masculino, e Bruna Kajiya, no feminino, contaram, sim, com a colaboração dos ventos somados ao visível e indiscutível talento para a modalidade. Mas para os dois líderes nacionais, outra ajuda bem especial foi fundamental para conquistar a vitória.
Em todas as provas que Romeu competia, uma torcedora se destacava entre as outras na areia. Marcela Witt, também velejadora de kitesurfe, estreou este ano no circuito nacional. Ainda adquirindo experiência, ela dá força para o namorado, ajuda na organização do equipamento, corre para buscar a prancha entre as baterias, comemora o desempenho com direito a beijos apaixonados e, lógico, escuta atentamente as dicas do companheiro veterano no esporte. “A gente dá força um para o outro. Ele me incentiva e me apóia e eu faço isso também”, falou Marcela. Reno acredita que, sem dúvida, a presença dela ajuda muito no equilíbrio emocional para encarar as competições. “No Circuito Mundial, eu fico muito entediado, sozinho. Com ela aqui as coisas parecem correr com mais facilidade”, finalizou o campeão.


A campeã do free style feminino, Bruna Kajiya, concorda com o casal. A atleta namora o velejador espanhol Ceser Portas desde o Circuito Mundial do ano passado, na etapa da Itália. “Acho incrível porque a gente divide tudo. Além do carinho e da força, a gente ainda treina um ao outro, dá dicas de como melhorar. Acaba que, com ele, o astral das competições é outro”, revelou.

Pernambucanos estão morando em Fortaleza


LUÍS CORREIA - Que Pernambuco se deu bem nesta primeira etapa do Brasil Kite Tour, no Piauí, a Folha de Pernambuco já havia noticiado na última sexta-feira. O velejador João Henrique garantiu o pódio com a terceira colocação na categoria wave, enquanto Gustavo Foerster conseguiu a terceira posição no ranking nacional na mesma classe. E as chances de vitória são grandes até o final do tour nacional. Mas a pergunta é: Por onde andam estes atletas que têm carregado o nome do Estado pelo País?

Já tem dois anos que os pernambucanos deixaram a terra do frevo para viver do esporte no Ceará. Crias dos ventos de Maracaípe, no litoral sul do Estado, além de deixar a terra natal em busca das boas condições que Fortaleza tem para o kite, considerados as melhores do País, ambos trabalham, junto com quase 12 pessoas, em um projeto de produção de mídia chamado KiteSurf Mania.

A proposta é baseada na criação de um espaço de divulgação da modalidade através de revista e site, que leva ao ar notícias em primeira mão sobre o que acontece nos campeonatos de todo o País, além de serviços como cursos online, reportagens em formato de revista virtual, cartoons e fóruns de debate. “Abraçamos a modalidade e, principalmente, estamos focados no seu crescimento”, falou Foerster.

Para eles, a partir do momento que decidiram viver do esporte, foi necessário procurar um lugar que desse as condições. Se sentem saudades da terrinha? “Muita. Mas a gente sempre dá um jeitinho de fazer uma visita”, revelaram, em sintonia.

Pedreiro de apenas 18 anos tornou-se vice-campeão

LUÍS CORREIA - Kitesurfe não é, exatamente, um esporte barato. Um equipamento completo, mesmo que seja de segunda mão, é comercializado em média por R$ 1,5 mil. Um material novo contendo barra, pipa, bolsa, bomba, prancha e trapézio pode custar até R$ 2,5 mil.
Mas para quem ama o esporte, nem sempre a questão financeira é uma barreira. Piauiense de Barra Grande, Hélio Cabrinha é pedreiro e a única fonte de renda da família, composta pela mãe e três irmãos mais novos. O garoto, de apenas 18 anos, que só estudou até a quinta série, acaba de conquistar o título de vice-campeão brasileiro da modalidade e o direito de representar o Brasil no Campeonato Mundial de Kitesurfe, na próxima semana, também na praia do Coqueiro, no Piauí. E disputando a final contra um dos maiores nomes do esporte mundial, Reno Romeu.

Este é o primeiro esporte que ele praticou na vida. Há dois anos, o dono da pousada onde ele é pedreiro comprou um equipamento de kite para brincar no mar. E foi assim, ajudando a buscar a prancha que ele começou a aprender a modalidade e, com incentivo financeiro e de equipamento do patrão, inscreveu-se no Brasileiro do ano passado, quando ficou em 12º. “Eu me apaixonei pelo kite. Comecei a andar bem. Até hoje minha mãe fica com medo e nem olha para o mar quando eu estou. Mas meu grande sonho é conseguir uma boa colocação no Mundial”.