Páginas

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Defeituosa

Sabe, o esquecimento é como um frio que dá bem na ponta dos dedos. Destes que a gente põe a mão entre os cabelos e encosta no couro cabeludo por trás das orelhas pra esquentar. Não tenho vontade de morrer, de verdade, nunca tive. Mas, por vezes, engraçado...ela aparece.

Normalmente, é justamente quando me surge este frio na ponta dos dedos. É neste mesmo período que me vejo nervosa, impaciente e impulsiva. Uma espécie de pomba-gira do novo século, que, inconstante, deve cumprir as tarefas ainda que à beira de cometer qualquer que seja o homicídio, merecedor ou não.

Alguns momentos também me brotam lágrimas nos olhos. Ora, se eu não sei o que fazer? Assim, eu choro. Como criança entre a pipoca e o pirulito.

No meu estômago, vespas. Vespas zumbantes e inquietas, que vagam de um lado para o outro se estabacando a cada segundo em uma das paredes dentro de mim. E normalmente, quando tentam subir pelo canal da traqueia, sobe-me aquela vontade. Vontade de vomitar vespas barulhentas.

E aguçada, sinto meus fios de cabelo separados uns dos outros. E as pontas duplas se abrindo, uma a uma. E parte deles caindo, um, depois o outro, um depois outro, como não fosse mais restar nenhum.

Ignorada, nem te mereço, acredito. Penso nos meus pés descalços e nas minhas unhas mal pintadas e vem a certeza: de fato, não te mereço. Não mereço nada, defeituosa que sou eu. Mentalizo barulhos de passáros e caminho dia após dia em busca de descobrir como cessar frios, mortes, lágrimas e vespas zumbantes. Mas não consigo. Não consigo. Defeituosa, sou eu.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Querer

Quero teu sorriso
O teu olho fundo
Teus rosto fino
Teus braços largos

Quero teu peito aberto
Tuas mãos fortes
Teu abraço enorme
tua alma

Quero teus cabelos de volta
teus dentes tortos pra sempre
Teu cheiro de talco jonhson & jonhson
Teu hálito de ganja por vezes em vezes

Quero tua neurose
Quero ser tua cura

Quero você despido, suado
pingando
zonzo
Ou até você sério, com a camisa abotoada

Quero você quando me dá órdens
e também quando me pede conselhos
Quero você indeciso
da vista marejada
Atordoado

Quero você me pedindo pra ficar
me pedindo pra te amar

Quero tua voz cansada, falha, gaga

ou sonora

Quero teu pesar, mas também teus agudos
Quero acordar contigo
E não dormir nunca mais

By Manuella Bezerra de Melo