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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vergonha

Envergonhada, finjo ser o que não sou
Envergonhada de mim, imprestável, emprestada
Desmotivada, ergo a cabeça, nariz para o alto
Mas somente por pirraça, de ruim, de raiva
Por dentro e pela verdade, dilacerada, transtornada

Nó na garganta, náuseas, vespas famintas no estômago
Que vão adoecendo minhas tripas, ensanguentando meus rins
Vergonha, muita vergonha.
E vou fingindo existir.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Irrelatável

Sabe, queria ser dessas que escrevem assim. Escrevem com amor. Eu até que, uma vez – ou outra perdida – discorro palavrinhas. Decentes, até. Mas não são poemas, nem músicas, nem canções. Nem nada que fique, que transforme, nada que seja importante, ou que transtorne. Boto pra fora somente um pensamento, destes que são tão bobinhos que a gente nem tem pra quem dizer.
Sempre quis escrever sobre um monte de coisas que nunca escrevi. Declarei amores que não sensibilizou nenhum compositor. Chorei lágrimas que nunca viraram filme de holywood, e quem dirá novela das oito. Me apaixonei loucamente, mas nada shakespeariano, nem digno de um Romeu e Julieta.
Nada que eu escrevi saiu daquele extenso contexto espaço-tempo que somente o meu eu tem acesso. Talvez, e talvez muito com certeza, eu nunca haja aliterado nada suficiente. A minha insuficiência em elaborar não é exatamente a insuficiência em arder, mas em explicar como produzi o fogo. Pouco vocábulo para transcrever? O que é o meu socorro. Não que eu não sinta. Não! Sinto de amor e de dor o tanto capaz de rasgar entranhas, carne. Mas não consigo relatar. O irrelatável.

Eu não vou para o Galo

É Sabado de Zé Pereira e eu não vou para o galo
Hoje é dia de Olinda, Manguebeat
Hoje é dia de ir sem fantasia,
de se enfeitar de lama, e de urucum
Bem no Largo de São Bento

E de ladeira em ladeira, de percursão em percursão
Contemplar, agradecer, festejar
Pra sentir tem que nascer, arder, corar
Tem que vir com frevo no sangue

Tem que subir ladeira com o prazer de se nascer
E Olinda explode, surta, surfa no mar de gente que a gente , engole
E o sol a rachar, esquentar a alma, o sonho, a graça

E passar pelo amparo, quatro cantos e Ribeira,
13 de maio e Praça do Carmo
Subir a sé com frevo no pé

Pra sentir tem que nascer
Pra saber o prazer de sentir o suor descer
E cada gota que escorreu pela espinha
Foi um frevo rasgado, uma alegria.

Desacreditada

Desacreditada, ainda que esforçada
Nunca me foi suficiente
Sempre desacreditada, medíocre, ínfima
Sempre na medida, que me faz sentir menos.

E odeio. Posso ser igual, melhor
Mas nunca suportei a dor de ser menor
De ficar a margem, Na aba

Na tentativa de ser ótima
consegui somente ser regular


Matei. A mim.