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terça-feira, 27 de abril de 2010

Enrolada

Amontoa
Assim, feito minhas idéias,
meu cabelo pixainha
Sobrevoa

Quanto mais cresce
Menor fica
Pelos como buracos
Negros em mim
Eu, mulata ou a fim
de ser

Enrolados, como eu
Danada! Como meu
ser vaidoso

Como eu
Espaçosa, descarada
Grandes fios misturados
Me misturando ao mundo
E a me negar a boa educação
Do fino (e liso) trato

Ah, meu cabelo...
Não é por rebeldia
É por ser meu pêlo
Meu belo cabelo

Não por isso, não por conquista,
Por direito e
Por tê-lo, assim:
cabelo, xaxim, pixaim
Cabelo ruim?
Ruim sou eu
Que o levo em cima de mim
e ainda me enfeito
De flores e batom carmim

Ruim é você, pra você!
Que me acha linda
E quer
Ser ao menos metade mulher

Mas debaixo de tanto defrizante,
ainda...

Vai, me deixa
Ser bela!
Já não sou mais aquela
A pensar em certos caimentos
Sociais

Do contrário
A balançar meus cachos impermeáveis
Forteleço o corpo,
a alma,
e a história dos meus ancestrais.

Agora passa e dá uma olhada
Assim, como quem não quer nada
Se envergonha e pensa:
Não são, mesmo, esses negros cabelos
sensacionais?




De Isadora Dias para os cabelos que Deus lhe deu....

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