Faltam-me os dizeres, esqueço os aliteres. Como expresso com
letrinhas bobas e versos frouxos essa sensação horrorosa de um estômago vazio,
que já nem vê mais borboletas desde o nascimento do último pterodátilo? E como
explico que daqui mesmo de onde estou, eu bem que consigo ouvir a zoada
estrondosa de meus próprios dentes partindo unhas uma a uma, como fossem – as
danadas – umas trincheiras dessas de filme de guerra que a gente só viu na tela
daquele cinema velhinho do centro da cidade. Uma vez, eu me lembro, eu senti um
suspiro descritível. Dessas sensações tão boas, e intensas, que óbvias; que
geram poemas , musas e musos, e músicas bonitas que levam muitas pessoas à
cantarolarem entusiastas em volta da fogueira. Teve tudo. Suadeira na mão, até.
E paixão alargada que nem sete dúzias de soldados com armaduras podiam
desmantelar. Mas aí então tudo foi-se embora, vão e intenso como chegou. E
ficou esse nada sentir; grão seco, sem água nem terra, sem gerar dor, amor, nem
sabor. Semente sem flor.