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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sinto

Melancolia. Sinto tremores nas veias e os dentes trincando.Sinto os cabelos assanhados, sinto olheiras. Sinto a boca murchando, os pelos crescedo.As pontas duplas abrindo. Os cílios caindo. O estômago reclamando. Sinto fome. Sinto sede. Sinto a saliva ácida, as bochechas gordas, as orelhas quentes.Sinto as unhas encravando, as cutículas soltando, o esmalte descascando.

Desespero. Sinto os dedos rangendo, os olhos piscando, o sangue escorrendo.O grito preso, a voz escondida, a vontade esquecida.Sinto a saudade morta. As lembranças tortas, a vida traída. Sinto o beijo guardado, o nariz gelado, a vontade viva.


Esperança. Sinto a luz ascendendo, o cheiro nascendo, os dentes crescendo, os olhares insinuando. Sinto o jeito mudando, as lagrimas escorrendo, a coragem batendo.Sinto o futuro próspero, o brio próximo, a luz ascendendo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O paradoxo entre chuva e calor

Depois de uma semaninha esculhambadamente quente de cachorra-vira-lata-dos-infernos dentro daquela redação com o ar condicionado quebrado, de derreter a maquiagem e ficar seis longos dias sempre com cara de barraca, bem que eu pensei que, após uma longa noite de caipiroscas no Lima, eu iria adorar acordar com o barulhinho da chuva na janela. E isso, de fato, aconteceu mas, somente até as 10h45 da manhã, quando eu, definitivamente, despertei do meu soninho delicioso e enxerguei a realidade.



O barulhinho da chuva era na verdade um toró inacreditável que, definitivamente, me fez ter um fim de manhã desgraçado. Como se não bastasse eu ter pouquíssimo tempo pra me arrumar, comer e chegar no trabalho, a água simplesmente invadiu o meu apartamento pelos buracos do ar-condicionado. Ô, que beleza! Lá vai eu e meu maridão – que cotidianamente acorda com um bom humor de múmia – realizar as primeiras atividades do dia: Enxugar o apartamento, retirar os móveis molhados do lugar e arrumar uma maneira de fazer a água parar de entrar, já que vamos passar o final de semana fora e, definitivamente, não seria interessante retornar ao lar alagado.




Mas a tal maneira simplesmente não apareceu, o tempo passou e ainda precisava almoçar até chegar no trabalho – outra saga que teria que enfrentar por causa da chuva. Conclusão: Colocamos umas toalhinhas no chão e seja o que deus quiser. Para melhorar a situação, a cidade do meu Recife costuma não funcionar na chuva. As pessoas não conseguem chegar ao serviço, batem o carro no caminho, são soterradas por barreiras ou se afogam por causa dos esgotos entupidos. Pelo menos, hoje, Cinthya lembrou de trazer o ventilador para a bancada. Soterrada eu não tenho certeza, mas de calor eu não morro.