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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Noite de mortos e travesseiros

Dias e dias. Deitou e demorou a dormir. A noite parecia mais turva, apesar de nem chover. Os olhos nem cerravam, coitados, enfrentando pálpebras desobedientes que cismaram em ficar em alerta. A casa não tinha vivos. Só mortos. Na sala e no quarto. Inclusive ela, morrida, prostada sobre lençóis e edredons, enfrentando os travesseiros em uma guerra quase sem fim.

Nessa guerra entre pálpebras e olhos, enquanto agarrava almofadas coloridas, as lágrimas, ô intrometidas essas lágrimas, cercavam de ocasião em busca de respostas que não chegariam, não nesta noite. Mas lágrimas tem lado bom (bom?). Elas incham tanto que as rebeldes pálpebras uma hora acabam por se render. E cerraram, então, nessa hora. E quando finalmente chegou a escuridão, veio com ela a pontinha da renovação.

Por quase nenhum tempo, esteve esta pontinha. O dia acordou tão sem sentido quanto a noite se foi. E no automático, sublinha e sublima a vida. Arrota emoções, frustra segredos, esconde desejos, mente sorrisos. Fazendo graça para não perturbar os vivos de dia, derrubando lágrimas para incomodar travesseiros – e os mortos – a noite. Inclusive ela. Inclusive eu.

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