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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entre tosses e vovó, a mãe.


E aí que, bem bonita, depois de 13 horas seguidas de trabalho, cheia de olheiras e faminta, eu me abuleto em casa, finalmente. Abro a porta, boa noite pra babá, banho quente e um prato de inhame com queijo coalho. A babá vai deitar. Meu filho, um galeguinho meio fuleiro, dorme que quase engana ser uma bençá – como costumam dizer os irmãos. Aproveito pra acessar a internet um instante. Enquanto procuro uma amiga específica pra conversar meia hora de miolo e pote e vejo, simultaneamente, a novela das oito (ou seria das 9h?), lá me vem ele, o galeguinho. Uma tosse medonha, seca, uó, e com os olhos empoçados de água que mais parecia o acúmulo do sofrimento do mundo todo.

Catei o xarope, preparei uma medida e ele bebeu. Pedro não tem maiores problemas pra tomar remédios. Apesar de ser uma criança ultra-saudável, nasceu com alergia a lactose e albumina, sempre teve alimentação restrita e acostumou a tomar uns anti-alérgicos quase sempre.
Tenho quase 29 anos. Sou jornalista, tenho dois empregos, trabalho três expedientes. Moramos só, eu e meu filho. Sou dessas desgraças de mulheres que trabalha feito cachorra pra dar conta de um milhão de coisas ao mesmo tempo sozinha. Acabo fazendo das tripas coração pra compensar minha ausência acordando às 5h da manhã (as vezes antes) junto com ele pra fazer a tarefa da escola, pra jogar 20 minutos de bola depois de dar o café da manhã. Além dos finais de semana, período onde minha vida social é totalmente dele. Procuro viajar, levar ao parque, andar de bicicleta, ir à praia. As vezes encho a boca pra dizer isso com orgulho. Normalmente quando eu dormi pelo menos umas 5 horas por dia. Não foi o caso desta noite.

Desde a semana passada tudo aconteceu ao mesmo tempo. Uma greve no sindicato onde eu trabalho pela manhã me endoidou. A mesma greve deixou meu filho sem aula. No mesmo período, voltei a trabalhar no jornal e, no final de semana, emendei com um evento que tive que viajar. Conclusão: Larguei o menino praticamente uma semana inteira na minha mãe. Para uma criança de três anos, acreditem, uma semana faz muita diferença. É quase uma eternidade. E eis que quando, finalmente, tive meu filho de volta ele já não me queria mais.

Foi a primeira vez que aconteceu. Meu capirotinho galego pela primeira vez não me quis. Chorava, tossia e soluçava chamando pela avó, que bem conheço, é uma avó excelente. Nem sei como eu ia resolver minha vida não fosse a presença dela. Mas é avó. E avó boa, estraga. Por uma semana ele dormiu na cama com ela, comeu bobagens, brincou com o que não devia, fez manha, birra e malcriação e foi respaldado por todo aquele amor louco e dobrado que só uma boa avó sabe dar.

E eu? Ah, eu. Sou somente uma mãe. Destas treinadas pra ser a bruxa. Aquela que arrasta pra escovar os dentes, que o coloca pra dormir na própria cama, que corta as unhas, que não aceita mimimi pra comer, inclusive frutas e legumes, que não dá doce fora de hora e que bota de castigo justo na hora que começa o Ben 10 na televisão.

Fiquei em cólicas no momento. Em meu estado emocional normal e em equilíbrio, saberia como agir. Voltaria com ele pra cama, conversaria, resolveria. Mas não foi tão fácil. Eu carregava comigo um sentimento que toda mãe carrega e precisa aprender a lidar com ele: A culpa. Estava totalmente fragilizada, consumida pela culpa de ter sido inevitavelmente tão ausente por uma semana inteira.

Então, entre choros, tosses, soluços e pedidos por vovó, minhas lagrimas se misturaram às dele. Sem que ele percebesse, baixinho, recolhida, eu chorei também. Enquanto o abraçava forte, cantava a nossa canção de ninar favorita, desta vez foram meus olhos que empoçaram. E eu senti, aos pouquinhos, ele ouvindo e reconhecendo a minha voz ao cantar. E senti aos pouquinhos o coraçãozinho dele desacelerando e o corpo dele se aconchegando no meu. E o laço do cordão umbilical se refazendo em uma energia plena de amor. Até que ele adormeceu em meus braços, conformado, mas não sei se plenamente satisfeito.

Depois disso, a insônia. Este não é um dia que estufo o peito pra falar de mim e do quanto eu sou feminista e emancipada. É um dia que eu queria ser só uma mãe. Em casa, aprendendo ponto de cruz e vendo meu filho crescer. De pertinho.

6 comentários:

Anônimo disse...

Posso chorar daqui também??

Potyra disse...

O anônimo não é anônimo! Potyra na linha...

Anna Cristina disse...

Poxa...pensei muito nessa ausência cruel, na vontade de estar sempre perto e na rotina pesada de cuidar de um filho só. Experiência na qual estou passando. Amor incondicional que dá forças para vencer qualquer atribulação!
Texto lindo, você escreve belissimamente bem.
Bju

Vi disse...

Poxa Manu!!! Q lindo!!! Chorei!!! Lembrei q ontem tb chorei, voltando do trabalho olhei p o céu, o sol se pondo, lindo, um céu cor-de-rosa, peguei o celular e liguei p casa, Mama atendeu e como sempre perguntou: Mãe vc tá chegando???? A lágrima escorreu mas ainda sim consegui falar, Má, vai na janela e olha p o´céu , ele tá rosa só p vc... Muito foda!!! Vc não tá sozinha nessa...

Franco Benites disse...

Que belo amor esse, hein? Muito bonito o texto, o galeguinho e a galega mãe dele. =)

Anônimo disse...

No momento livre de lazer navegando pela internet me deparei com teu blog e esse texto transbordando de sentimentos...
...engraçado que tenho um filho com 3 anos e estou no auge dos 29 anos, me identifiquei, e ainda mais quando vi esse texto a falar de mãe/avó, levo uma vida um tanto assim, de viagem em viagem, semanas e mais semanas a viajar longe da minha pérola, e quando retorno vejo esse mesmo cenário, e vivencio sempre essa mesma dor que dilacera...
Com o tempo o razão sobrepõe o coração e apredemos a lidar com essa ausência na vida deles...
Já sofri bastante com "avós" e sabe a respota que uma delas por diversas vezes me jogava na cara?
"pais educam e avós deseducam"
...imagina como dói!
...tenha calma e paciência, quando estiver presente cante a bela canção que os une, faz carinho e converse sempre, explique, fale, pode nao parecer, mas eles entendem, e de uns tempos para cá é só abraço, carinho e alegria quando retorno ao lar.