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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Semente de verdade


Sementes todo dia
São sementes de alegria
Que semeia e principia
Essa coisa de magia

Se mentes pra si mesmo
Dá vazão à agonia
São sementes de tristeza
Numa casa vã, vazia

Semeia tua verdade
Sementeia tuas dores
Pra cair fruto no chão
Sem medo de ficar podre

Se mentes, não me tentes
Deixe a mim com a clareza
Que é melhor cumprir o ciclo
A ser sementeira presa. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Samba e liberdade


Carne que arde
e rasga, e sangra
Peito que abre
afaga, e ama.

Odor de brisa
areja o vento
Lua que sobe
alonga o tempo

Pisa na areia
com vontade
Abre teus olhos
pra verdade

Samba no mundo
E sapateia
Que liberdade
dá na veia.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Em luz

Abracei a lua
Sorri e cochilei
Engoli o sol
Depois que acordei

Hoje meu coração
vai explodir em luz

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Linha, agulha e asas


Nas veias, uma espécie de veneno
Tenho sede de rasgar a alma
Montar e dilacerar sonhos
Só pra sentir tudo de uma vez
E reconstruir costuras depois

Não gosto de vogais, nem de artigos
Não aceito cautelas, medições e cagaços
Detesto voz mansa, mão frouxa e reticências
Não tenho medo do escuro, nem do oculto
Também não me amedronta o declarado

Simplesmente não tenho medo
Debruço meu corpo no precipício
Olho e sinto, céu, chão e horizonte
E certa que caída ou arremessada
Tudo que surge em mim são asas.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Conto da menina negra

Um conto para o dia da consciência negra
_____________________


Quando eu era pequenininha, eu vi uma menina dançando. Ela tinha alguma coisa especial na cintura. Devia ser algum osso a menos, fazia ela se mexer como a flexibilidade do vento. Ela era linda, os lábios grandes, os cabelos tinham tranças; o sorriso era enorme. Tinha um quê de sofrer lá no fundo do olho, e curioso como isso a deixava mais grandiosa; com a espinha comprida e ereta.
Era a menina negra de saia rodada de flor, dos olhos de luz e de dor; aquela que me ensinou a mexer as juntas com o calor do meu coração, a sorrir com todos os dentes da boca. E que me ensinou que ser da maneira que se é, é a grande valiosidade de estar vivo.  

Sorriso,ladeira e luz

Eu sou um sorriso
que sobe ladeira
E desce ladeira
num rastro de luz

domingo, 4 de novembro de 2012

Desanônima

Arejo poros de vento em vento
Sorrio com as ventas e sigo
Digo o que há pra ser dito
E o não dito,não há a dizer

Mas não permito omissão
Não entendo indiferença
E me incomodo com o vulgar

Caminho como o ar e o sopro
valorizando força e leveza
E mostrando tudo em mim
Por entre letras,sons e rugas

E quem me olha
E enxerga anônima

É porque a mim,
Nunca viu.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Despeito


O que você pensa, seu moço
Com esse celular no bolso¿
Quem você acha que é
Pra nem me dar atenção¿

Dei carinho, abri mão
Te cuidei com precisão
De olhar teu olho verde
Até abri meu coração

Mas você como uma pedra
Preferiu ignorar
E amar outra mulher
Que está no além mar

Ora, seu moço, me poupe
E atente pra verdade
Já está com a barba branca
Enxergue a realidade

Sem querer desmerecer
Nem agir com falsidade
Pra amores impossíveis
Já não temos mais idade

A questão não é difícil
Mas pode gerar uma dor
Amor só é de verdade
Aquele que tem odor

Eu tava alí do teu lado
Mas tu nem lembras meu nome
Só queria saber da moça
Dia e noite ao telefone

Eu podia ter te amado
E ter te feito feliz
Mas você com seus grisalhos
Foi bancar o aprendiz

Eu assumo e admito
Tem despeito nas palavras
Mas releve esse poema
Sob efeito da mágoa

Me permita um xingamento
Va pra puta que pariu
E perdoa um coração
Que foste tu quem partiu

domingo, 30 de setembro de 2012

O hoje


Litero cores e sabores
Por onde ando, apago as dores
Semeio o tempo como mágica
Planto sorrisos como flores

Intenso e denso, farejo brilhos
À pele seca, textura e brio
Aguardo, aplaudo e sinto o hoje
De sonho em sonho, cultivo amores.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Contradição do amor que acabou


Das contradições, de todas elas, a maior é o amor. Não se sabe se se ama, ou se muito, ou se pouco. Não se sabe sua direção, nem como fazê-lo ao certo. Não se sabe sua cor, não se sabe - sequer - se, de fato, é amor.

Eu te amo e você me ama; eu te amo mas não sinto mais tesão. Te amo mas parei de arder, te amo mas você me faz mal. Eu te amo mas não funcionamos, te amo mas você nunca leu Marx; e tampouco gosta do Bob Marley. Eu te amo mas você não me entende, te amo mas você me maltrata, te amo mas você me machuca.

Eu te amo, mas você não me ama.

Eu não te amo mais.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Dia denso, perda oculta


Dia denso. Tenho um peito rasgado e uma alma incapaz. Sofrendo por tentar; mas sucumbindo em desistir, choro lágrimas internas e exorcizo sorrisos de dentes vazios e podres – e gengivas emocionalmente inflamadas e sangrando – a fim que ninguém perceba a densidade relativa com alta volatilidade e poder reativo. 

Não provoquem hoje o meu coração. Ele está em processo de perda oculta, dessas que não podem ser reveladas. E que a gente precisa fingir que não tem absolutamente nada sendo perdido. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O desejo da insanidade autorizada


As vezes eu queria ser mais confusa.  Até tento, mas por raro, consigo. Sofro uns instantes, me estabilizo e passo à frente. Sinto o sentimento, ardo, tremulo; então expulso, grito, exorcizo, racionalizo e volto ao eixo. Por isso que, vez por outra, era mesmo melhor ser mais confusa.
Justificaria os erros na minha loucura, adormecia as dores com pílulas, fraquejaria e dormiria por dias e dias. Sancionava perdão aos equívocos e decretaria estado luto interior - e exterior também, porque não? Fora do eixo denominar-me-ia. E seguiria, ou não. Agarrada nas pedras de fundos poços, e sem procurar pelas cordas de volta, atestando a tão sonhada loucura, aquela insanidade autorizada que tanto gostaria de possuir.

De passado,presente e futuro


Eu era,

Do verbo já não sou mais, mas lembro de como fui, e aprendi sendo. 

Eu sou,

Do verbo continuo sendo, e parte quero ainda ser e outra parte quero transformar. 

Eu serei, 

Do verbo não tenho certeza, mas desejo somente que seja melhor com mais luz e mais amor no que virá.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Marejos


Ah, eu me emociono. Palpito com abraços, tremulo com sorrisos. A mão, então, destoa com uma voz somente, não muito. E marejo fácil. Sentindo o vento, deixando o sol entrar pelos poros. Me emociona a honestidade, o amor, a sinceridade e também aquela música manjada e antiga do Beto Guedes. Me emociona a história, as lembranças, quem fui e quem sou. Choro a toa com a força alheia, aprecio a inteligência e a determinação. E vivo assim, envolta em lágrimas da boniteza que é a vida.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Palavras e piruetas


Amarela e sem fraquejo, em dias de chuva doem os joelhos. Já não sei se feliz ou triste. Sei somente que sigo forte, apesar de – por vezes – confusa e sensível. Ajudo a erguer vozes, a levantar cabeças. Sustento a mão e sapateio de tamanco no abdome do planeta, enquanto me delicio com sabores de café amargo, destes que me mantém com os olhos abertos na rotina.

Então eu vou. Dou mais um passo, e outro. E a cada um deles, uma cambalhota. E a cada uma delas, uma pirueta. E a cada novo movimento, dou de cara com um novo sorriso. E sorrisos são meu fraco, me desestruturam o coração.  E basta um deles , destes bem cheios de verdades, pra me aquecer involuntariamente esse músculo que nada mais sabe fazer além de amar.

 E enquanto cai o mundo em água lá fora, sacrifico o sono perdida por entre palavras obesas e letras magras. Redijo meus próprios sonhos, recito o amor, disserto com os dedos todo esse querer bem e vontades do planeta. E assim seja eu, que todo santo dia vou matando a fome da vida tão bonita com a arte de conjugar verbos e formar períodos. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Reaninho

Tô indo aos poucos.
Refazendo minha vida,
recontando minha história.
Reconstruindo o caminho, 
realinhando a espinha.

Vou devagar.
Reeducando o coração, 
reaninhando a razão,
Restabelecendo laços, 
reatando nós.

Vou passo a passo.
Sublimando dores, 
cultivando amores;
redesenhando,cada

uma delas, todas as flores. 

domingo, 20 de maio de 2012

Um pouco mais de Centralismo Democrático



Saiu hoje, mais cedo um pouco, o resultado oficial das Previas do Partido dos Trabalhadores. Depois de uma novela de meses e meses e meses (destas com direito a mocinho, bandido e história de amor, pra Manoel Carlos nenhum botar defeito), João da Costa – o prefeito do Recife desde janeiro de 2009 – venceu a eleição interna e, a princípio, parece que será mesmo candidato à reeleição no pleito de outubro. Mas o que era pra ser um processo simples transformou-se na maior celeuma já vista e acompanhada pela política pernambucana. 

Mas quem sou eu no jogo do bichou pra achar que posso escrever um texto sobre processos do partido alheio? Ninguém. Não sou jornalista de política, não sou militante já faz tempo e, principalmente, não sou a favor nem contra nada nesse processo todo (mentira, sou totalmente contra a direita).Mas sou enxerida, e isso basta.

Tem uma coisa que eu aprendi ainda menina na vida e que trago comigo até hoje; e que me ajudam em qualquer tipo de relação. É o princípio leninista do centralismo democrático. Vou explicar: O centralismo democrático é uma forma de exercer uma democracia interna partidária; onde os membros debatem entre si até o desgaste argumentativo para, então, pôr-se em votação as questões, que em seguida serão defendidas por todos os membros, inclusive os que tiveram sua proposta derrotada. O direito à facção, por exemplo, foi totalmente abolido no Partido Comunista Soviético ainda em 1920, o que pra mim, humildemente, foi decisão acertada, mas isto é outra história. 

Isso porque, sem rodeios, centralismo democrático é aquilo que a gente aprende desde a infância sobre a tal da democracia. Tipo quando a gente vai pra casa da amiga ver filme em grupo; três querem ver Wolverine e dois querem o novo do Almodóvar. Geral vai ver Wolverine e é ridículo que, por causa disso, os outros dois se levantem e vão embora. Vence a maioria e não adianta bater o pé e nem fazer bico. Tem que abrir mão do individual pelo desejo do coletivo e cabôsse. Este é um princípio que serve pra qualquer que viva em sociedade.

E porque eu estou falando isso tudo? Pelo seguinte. É que quando a gente aprende que bicho é esse, fica praticamente impossível compreender a forma com que a democracia é exercida pelo Partido dos Trabalhadores. Lógico que a gente compreende e respeita as divergências, claro que em um só partido mais de uma pessoa pode ter interesse em ser candidato a isso ou aquilo; óbvio que um partido pode ter grupos e estes grupos disputarem uma eleição interna. 

Mas a influência trotskista na condução do processo de prévias do Partido dos Trabalhadores é clara como água. Os trotskistas nunca engoliram o centralismo democrático. É um câncer fraticida; uma tentativa revisionista de desvirtuar e confundir a esquerda revolucionária através de um pensamento divisionista, que chega a ser desrespeitoso com o coletivo, com as decisões das maiorias. 

Foi assim que comecei a avaliar o processo de prévias petistas desde o início. E a me desesperar com a quantidade de sequelas que aquilo ia deixar no conjunto das forças populares do Recife. Porque veja, Humberto Costa pode não ir com a cara de João da Costa; João Paulo também. João da Costa pode ser ruim no manejo político e Rands pode querer ser candidato até a presidente do Uzubequistão se ele quiser, mas a exposição dos problemas internos e das divergências ao público foi o primeiro grande equívoco histórico dos companheiros petistas, lideranças às quais sempre admirei, militei, saí na rua e sapateei até o chão pra defender nas eleições.  

O que era pra ser um debate ideológico interno – na mais pura teoria onde eu, ingenuamente, insisto em me manter – virou um leva e trás de fofocagem, uma grande lavagem de roupa suja de problemas pessoais e relacionais de umas tias-lavadeiras que cá entre nós, já tem tanto tempo de serviço que era de se esperar cinquenta centavos ou um real a mais de jogo de cintura pra transportar a trouxa de roupa na cabeça.

Arenga por arenga, eu nem reclamo. Quem é arengueira tá aqui. Problema é que no lugar de fortalecer, os cacos voaram pra todo lado, cortando todo mundo – teve até um que pegou em mim. E o que tem de ferida aberta que vai render cicatrizes destas cirúrgicas, não tá escrito em livro de 500 páginas.

E enquanto o PT espalhava o sangue, enquanto seus militantes postavam irresponsavelmente coisas sobre a moral questionável de quem sempre foi camarada, a população se confundiu e a direita pernambucana assistiu ao filminho com direito à Combo de pipoca triplo e aplausos de pé. E convenhamos, esquerda de Pernambuco, a sorte é que a direita aqui é totalmente dividida e os nomes cogitados tem muito pouca força política na cidade. 

Afora isso, pouca coisa. A não ser o erro grave de uma simples análise de correlação de forças antes de enfiar carroça com boi e tudo sede do PT adentro. Até eu consegui fazer isso, qualquer macaco bem treinado faria; tivesse ele pensando com o cérebro e não com as vísceras. A rejeição que João da Costa tem na Classe média – maior parte dela por conta dos problemas da classe média em deixar seu carro em casa e ir trabalhar de bicicleta, ônibus ou caminhando – não reflete nem nunca refletiu na relação dele com a base petista. Eu, classe média com raiva do engarrafamento, não voto nas prévias do PT. Nem minha mãe, ela também não vota. Meu irmão, médico, protótipo da classe média – Puto com João da Costa – também não vota nas prévias do PT. Quem vota é Dona Maria da sétima zonal, e seu José da borracharia, esse vota também, filiado desde milnovecentos e Lula lá. E os coordenadores das Zonais são trabalhadores da gestão, era fácil de prever; cantei essa pedra.

É bom explicar aqui também que eu nunca, nunca no Brasil tive empatia alguma pelo nosso prefeito. Acho um chato e votei nele naquele esquema de todo mundo, abracei o candidato da Frente Popular – como sempre fiz enquanto soldada bolchevique que sou. Mas é preciso ser macho nessa vida, viu? A gestão desse moço antipático aí é de responsabilidade de toda Frente de Esquerda. Não adianta, agora, se jogar do barco em movimento. Este é sim um projeto político encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores e, por mais que neguinho negue, tava na gestão até um mês atrás. 

E de tão desgastante, doloroso e despolitizado que foi o processo todo de prévias, aí deve aparecer gente aqui pra me xingar e dizer “#mimimi ele ganhou comprando voto”, “#mimimi eles são feios e ladrões”, “#mimimi piratas do Recife”; o que me lembra claramente meus tempos de movimento estudantil, quando a gente não tem maturidade pra perder e assumir a derrota, além do que, nessa novela aí tá faltando santo e puro. 

Eu não sei vocês. Eu não sou do PT, mas desde o princípio dessa confusão sempre soube que dela sairia o meu provável candidato a prefeito – a não ser que algo muito inovador aconteça a partir de agora na Frente de Esquerda. Eu votaria e faria campanha para Maurício Rands e é possível que faça pra João da Costa. Tudo isso sabe porquê? Porque em 1999 eu tirei meu título de eleitor. No ano 2000 eu passei em muitas, mas muitas salas de aula pedindo votos; em outubro eu me derramei em lágrimas postada naquele marco zero, vestida de vermelho dos pés à alma para comemorar que, finalmente, a minha cidade saia das mãos da maldita direita. 

E no meio disso tudo, eu que era uma menina, cresci junto com minha cidade. Vi ela evoluindo, se transformando. Vi o povo do Recife mais ouvido, mais feliz. Vi as ruas mais limpas, as pessoas mais satisfeitas, a cidade mais democrática. Vi os carnavais e a cultura local se tornarem referência, presenciei tanta evolução, e evoluí junto. João Paulo foi prefeito muito tempo e é parte disso. João da Costa foi gestão por 12 anos, também é parte disso. Rands, como não? Militante histórico, é totalmente parte disso. E eu? Que chorei, debati, arenguei, convenci, defendi? Sou também parte disso. 

Vou continuar no mesmo canto. Esperar o desfecho dessa novela comprida medonha. Torcer pra que as feridas sejam reparáveis é tudo que me resta. Se o resultado vai ser validado, eu não sei. Também não sei o que os bastidores da política planejam, nem o que pensam as nossas lideranças. Se vão anular aqui, lançar não sei quem ali. Mas uma coisa eu sei. Continua dependendo disso tudo os botões que eu vou apertar em três de outubro; e mais, a emoção que eu vou sentir. É o tal do centralismo democrático, lembram? Esse danado, que não me larga.






quarta-feira, 25 de abril de 2012

Poeminha Bobo II


Tentada de amor, vacilo, te escuto
Calo a minha alma só pra te ter
Te espero à volta tardia, no oculto
Atordoada, corpo arder

E Enquanto arde, seduz tentação
Sem saída à alma, te chamo, clamo
Travando dentes, envolto paixão
Trinco o desejo por ano a ano

Te quero agora, tão como antes
Tantos dias parecem nenhum
E todos eles, tento, te arranco
Tu voltas forte, sina comum

Frustrada, deito, paixão calejada
Atordoada, uma alma em apego
Cerrando olhos, aprisionada
Tortura trava, amor no meu peito

Contigo vivo até o infinito
Monto em saudade, lembranças reais
E em todo tempo, cruel e aflito
Transcedo envolto dos meus ideais.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sagrada saudade

Nesse mundo coisa mais bonita não tem do que o sagrado direito de sentir saudade. Essa danada, veja mesmo, a gente só sente porque foi bom; e faz falta. A saudade vem da lembrança. Não importa se de toda uma longa história de amor, dessas que duram anos e que a gente chega a pensar em algum momento – ou em quase todos – que nunca vai ter fim; ou de uma noite apenas, não faz muita diferença. A saudade vem quando o corpo, alma e coração; todos juntos batem em tremedeira, se descabelam e se esgoelam, tudo isso pra te avisar do tanto que era pra prestar atenção naquele momento, sólido, forte, sincero, especial.

E aí o bendito olho faz o favor de decorar tudo. A gente decora a voz, a posição de cada dente, as dimensões do nariz e até mesmo aqueles fiozinhos rebeldes da sobrancelha. Memoriza o cheiro - todos eles -, e até a sensação da pele quando o calo do dedo anelar segurava na tua mão. E de tanta falta que sente, lembra com carinho da pele áspera dos braços, do calor dos abraços, dos decibéis dos sorrisos sob os lençóis e até mesmo dos sujos dentes vez em quando.

Mas não se recuse, abrace as lembranças. Sinta falta, sinta muita. Saudade sublima a alma, purifica os sentimentos e faz reinar apenas aquilo que diz respeito ao reino. Olhar pra ela com bons olhos faz a gente não permitir que o que foi bom seja ruim, porque não foi. Saudade é aquilo que há de mais nobre no amor. É o que restou de puro, o carinho que ficou.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Volátil

Mas olhe, bonito. Tão bom foi que nem raiva me apetece. Foste um merda, confesso. Bom de hora em hora e nem sempre, quase nunca. Mas veja bem, disso o amor não vive. E boniteza é muito pouco. Linda mesmo fui eu, ora essa, que lancei olho, boca e ouvido. E atravessei rio todo, sozinha. Rindo feito besta somente de tantas besteiras. Pra perceber, depois – e bem depois – que morre toda hora dois dedos, ou até mesmo cinquenta centavos, dessa superficialidade toda. E no meio do caos, tão bonito que dá aperto e nó, a gente vê que vivia, lindamente vivia, olha atenta de um lado pro outro pra sentir mesmo foi que nada, nada mesmo mudou. Fosse como um ou dois raios na testa, mas destes pequenos, meio voláteis, mas miudinhos que chega da dó. Aí o olho abre, a boca junto, os dentes cerram todos e o bocejo de hoje é o mesmo, exatamente do mesmo jeito que foi ontem, e incrivelmente igual aquele que tu ainda nem deu, aquele de amanhã.

Desate

Desco da corda, caio do salto, me equilibro

Sustento fígado com sorrisos e espinha ereta

Alimento a alma com tagarelices, sal e sol

E vou passo a passo, solto pernas e cabelos

Ergo braços e espírito, sinto vento e areia na cara

Sonhando alto,mas bem alto, pra todo mundo ouvir

Aí então eu sigo, devagarinho, sem pressa

sentindo os abraços – e os grandes braços - dos amores

Amando as virtudes dos meus presentes, ignorando defeitos

Desfazendo nó por nó, daqueles cegos que a vida ata

quinta-feira, 29 de março de 2012

Faz de conta

Os dias são de angustia. Esfrego com força as mãos por cima da pele do rosto, movimentos desconexos vão arrancando a tensão travestida de óleo enquanto três ou quatro rinocerontes sambam no meu estômago com pesadas patas remetendo algo próximo de uma retroescavadeira industrial. Chorar já nem adianta. Expulso parte dos males em forma de vômito e, por vezes, verbos mal ditos e palavras mal tracejadas pra ninguém ler.

O que era cansaço transformou-se numa estafa absoluta. Prostrada e sem força, arrasto sílabas que nem respiram, à base de doses cavalares de aerolin na tentativa de ventilar as entrelinhas trazidas por um cérebro totalmente transtornado de tristeza. Semelhante a um zumbi, piloto minha vida no automático, dando passo a passo na espera que um empurrão desvie meus pés e um tropeço me empurre para o caminho que devo seguir para encontrar um sorriso que seja. Enquanto isso, mantenho os olhos abertos e os ombros eretos, engulo seco e invisto na postura dura, transformando a rotina em um martirioso jogo de faz de conta que sou feliz.