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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pessoinha




Quietinha, estava eu.

Gozante de minha plena e arrodiada pós-adolescência.

Duração eterna, eu previa.

A vidinha igual a sempre trazia todas e nenhuma novidade do mundo.
Liberdade cativa.


Daí, pow! A notícia:

- Tem alguém morando em você.
- Como assim morando em mim, doutor?
- Isso mesmo. É uma pessoinha. Se alimenta do que você se alimenta. Ouve o que você ouve. Sente o que você sente. Tem alguém morando em você.

Volto pra casa desolada. Era felicidade também. “Que incrível. Que poderosa sou eu, que posso gerar até vida?”
Mas eram tantas rugas. Rugas de dúvidas. E nenhuma iria ser retirada Dalí antes do tempo certo.

Resolvi esperar. Uma hora, a tal pessoinha ia querer responder minhas perguntas.

- “Tem alguém aí?”, falava eu com a barriga – ou seria com a pessoinha - , sem retorno.

Quando muito, a resposta eram horas a fio de enjôo e cabeça enfiada no vaso. “Acho que ele não gosta tanto de Nutella quanto eu”, pensei.

Aí o tempo foi passando. A barriga foi crescendo. Eu estava no caminho certo. ‘A pessoinha’ estava crescendo. E forte, segundo o médico, que vez por outra fazia um filminho dele pra que a gente pudesse verificar a sua saúde.

É tanto tempo com ‘a pessoinha’ morando dentro de você, que na medida que ela cresce, vai crescendo também um sentimento. Destes tão fortes que faz tão bem a gente. Chegou um tempo que achei que ele começou a falar. Queria avisar pra mim que estava ali.

Tolinho. Como se eu já não soubesse, ele chutava sua casinha até que eu pudesse ver o seu pezinho.
Não havia voz. Mas eu sentia que era: -“Sou eu, mamãe. A pessoinha que mora aqui”, que ele dizia.



- A bexiga não, pessoinha. A bexiga, não.

Com a barriga já pela boca, as ancas doíam.
- Ai que dor, seu doutor. Essa pessoinha não está comendo demais?
- Calma, casuolinho. Esta é somente a dor mais fraquinha que você terá.

Em poucos dias, entendi. Como aquela pessoinha iria avisar que queria sair Dalí? Era aquela a dor que dizia que aquela casinha já estava pequena demais para a pessoinha.

- Vejam, vejam. Chegou a pessoinha.

Como eu estava feliz. Meu coração tinha o dobro do tamanho, agora. Meio desengonçada, era tão curiosa em saber seu rostinho, que apareceu, todo enrugadinho, avermelhado.

- Que engraçado. Ele tem meu cabelo, doutor. E meus olhos caídos também.
- É seu príncipe. Agora você não é mais casuolinho. Agora você é rainha.

4 comentários:

Aninha Santos disse...

Muito lindo. Só uma mãe sabe o que é ter uma pessoinha morando em você. Bela lembrança Manu, e parabéns pelo dia!

b arrais disse...

Lindo seu texto, Manu. Fiquei até emocionado.

Isadora Dias disse...

Que lindaaaaaaaaaaa!

amoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoamoam

Carol Pacobahyba disse...

Que texto emocionante, Manu! Lindo, lindo, lindooo!
Parabéns pro seu Capiroto, que é u menino lindo de viver! E pra você, que é uma mãezona maravilhosa!

Beeeijos