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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Defeituosa

Sabe, o esquecimento é como um frio que dá bem na ponta dos dedos. Destes que a gente põe a mão entre os cabelos e encosta no couro cabeludo por trás das orelhas pra esquentar. Não tenho vontade de morrer, de verdade, nunca tive. Mas, por vezes, engraçado...ela aparece.

Normalmente, é justamente quando me surge este frio na ponta dos dedos. É neste mesmo período que me vejo nervosa, impaciente e impulsiva. Uma espécie de pomba-gira do novo século, que, inconstante, deve cumprir as tarefas ainda que à beira de cometer qualquer que seja o homicídio, merecedor ou não.

Alguns momentos também me brotam lágrimas nos olhos. Ora, se eu não sei o que fazer? Assim, eu choro. Como criança entre a pipoca e o pirulito.

No meu estômago, vespas. Vespas zumbantes e inquietas, que vagam de um lado para o outro se estabacando a cada segundo em uma das paredes dentro de mim. E normalmente, quando tentam subir pelo canal da traqueia, sobe-me aquela vontade. Vontade de vomitar vespas barulhentas.

E aguçada, sinto meus fios de cabelo separados uns dos outros. E as pontas duplas se abrindo, uma a uma. E parte deles caindo, um, depois o outro, um depois outro, como não fosse mais restar nenhum.

Ignorada, nem te mereço, acredito. Penso nos meus pés descalços e nas minhas unhas mal pintadas e vem a certeza: de fato, não te mereço. Não mereço nada, defeituosa que sou eu. Mentalizo barulhos de passáros e caminho dia após dia em busca de descobrir como cessar frios, mortes, lágrimas e vespas zumbantes. Mas não consigo. Não consigo. Defeituosa, sou eu.

Um comentário:

Isadora Dias disse...

Finalmente, lai vem a pombagira baixando, do jeito dela...
Vem toda crítica e jornalista, com tendências ao desamor próprio de vez em quando.
Vendo esse desespero, lendo esse pânico, me pergunto o que de tão grave pode estar acontecendo. E teço minhas idéias...
Não, nada pode ser tão grave que mereça o desfrute de te tirar do salto e acabar com a tua beleza, amiga. Nada. Nadinha.
Te amo do tamanho que tu sabes que eu te amo.
Isa.