À direita, ela não escondia mais vontades. Enquanto ele matava a sede, debruçou-se com a mão esquerda nas próprias partes. Devagar, dedicou-se a si mesma com entusiasmo de quem não estava sendo totalmente ignorada. O olho dela invertia. A coluna transpirava de desejo. Era assim sempre, a cada intervalo enquanto não estava dedicando-se a encarnar a Pagu, ou até mesmo atualizando novas leituras à Madame Bovary. Naquela hora, especialmente naquela hora, a boca insistira em salivar, e exalava um cheiro doce.
Ele levantou, beijou-a na cabeça com um carinho fraterno que ela dispensava. Virou as costas, sujou o carpete com o sapato e bateu a porta. Na cama, nem os olhos abriu. Determinada em suas próprias vontades, mostrava os seios à todos que ali não estavam, e devorava com as mãos um público inteiro que jamais presenciou o espetáculo, mas que ela escutava os aplausos sempre antes de levantar.
A intimidade com a cama a fez adormecer os olhos, enquanto o corpo incansavelmente funcionava. Despertou em poças. A pele clara tinha placas vermelhas. Sentiu falta dele à cama, mas somente por um instante. Na sala, as marcas do sapato no carpete. Era rotina. Ela limpara, e elas voltariam. Ainda úmida, despida, satisfeita, abriu as cortinas. Amanhecia e a cidade luz já mostrava daquela janela um pedacinho do Obelisco de Luxor quando a campanhia tocou.
Madelaine não esboçou reação, não havia surpresa. Ansiosa, esperava. Caminhou à porta. Completamente nua, girou a maçaneta e a encontrou. Valentine entrou em um silêncio, mas na face, um sorriso gritava bem no canto da boca de lábios pálidos e magros. Elas tinham os mesmos olhos. O mesmo cheiro, o mesmo gosto de carne crua. E Empoçaram-se naquela fome, numa batalha de peles alvas e línguas ácidas que não terminara antes de um novo amanhecer em Paris.
.
Um comentário:
Parabéns Manu, o blog de cara nova ficou um charme e o conto envolvente.
Postar um comentário